DUETTO

O Tempo e o Vento

SINOPSE

DUETTO se passa na Itália, durante o Festival da Canção Italiana, de 1967. E conta a história do encontro imaginário e humano de Cora, jovem brasileira de 16 anos, com o famoso e controvertido cantor e compositor italiano Marcello Bianchini, horas antes de sua morte. Quando descobre a morte de BIANCHINI, Cora tenta achar um culpado, da mesma forma que culpa sua mãe pela morte do pai. Contudo, ela não descobrirá a verdade sobre a morte do cantor, até hoje um grande mistério. Acabará, no entanto, encontrando a verdade sobre a morte do pai e finalmente irá perdoar sua mãe. DUETTO tem os elementos estruturais de um thriller em meio ao cenário importante e belo da cultura italiana dos anos 60, mas é fundamentalmente um filme que retrata o comovente caminho de uma jovem garota em direção ao seu amadurecimento e à vida adulta, assim como as complexidades do amor em suas diversas facetas.  Marcello Bianchini, compositor e cantor genovês, se sentia incompreendido. Foi o primeiro a fazer canções de protesto na Itália e era o antagonista de uma certa canção popular italiana, facilmente aceita e difundida pela indústria fonográfica dos anos 60.    Muitos dizem que ele não deveria ter aceito participar do festival de San Remo, conhecido e renomado no mundo todo, porque simplesmente sua música era contrário a esse festival, que claramente prestigiava a indústria.                                                                Na noite de sua apresentação e posterior exclusão, o corpo do Marcello Bianchini foi encontrado na praia. Depois de uma primeira investigação, foi concluído que ele teria se suicidado, por causa da não classificação de sua não classificação de sua música para afinal do festival.                                                                                                                                                                                      Por décadas, suscitando interesse dos italianos e dos amantes da música, o caso, envolto numa grande áurea de mistério e conspiração, foi reaberto em 2005. Depois de novas investigações, foi mais uma vez concluído que Bianchini havia se suicidado. Mas até hoje pairam dúvidas e questões não resolvidas que indicam que Bianchini poderia ter sido morto. E assim, a verdade, a cena real que ocorreu após Bianchini ter saído do teatro e, que determinou sua morte, nunca será conhecida inteiramente.                                  O encontro da realidade envolta em mistério com a ficção em DUETTO traz uma forte expectativa de público nas salas de cinema tanto na Itália como no Brasil, uma vez que essa ponte se dará através de uma personagem brasileira, Cora, um jovem de 16 anos. Além do mais, há o encanto e a curiosidade muito grandes das novas gerações em relação aos anos 60, suas questões culturais, seus personagens. E apesar de criticado, o festival de San Remo, em 1967, tinha todo o charme dessa época, impulsionava a carreira de muitos artistas e até hoje é conhecido no mundo inteiro.

 

 

DUETTO si svolge in Italia, più precisamente nella città litoranea di San Remo, durante il Festival della Canzone Italiana del 1967. Racconta la storia di un incontro immaginario ed umano di Gabriel, un bambino brasiliano di 13 anni, con il famoso e controverso cantante e compositore italiano Luigi Tenco, alcune ore prima della sua morte.

Ma la storia di DUETTO comincia a San Paolo, dopo un tragico incidente in macchina, in cui muore suo padre. Gabriel viaggia, con la madre Isabel e nonna Lucia, 65 anni, madre di suo padre, verso la città natale di lei, San Remo. Una città conosciuta per il festival della misura, nella piena Italia degli anni 60, che si stava rifacendo dal passato di guerra ed esportava la sua romantica musica in tutto il mondo.

Lucia va a visitare sua sorella Sofia, 60 anni, per decidere sulla vendita della vecchia residenza di famiglia a San Remo, dove le due ragazze sono cresciute fino a quando si sono sposate. Sono quarant’anni che le due non si vedono.

Sofia, a San Remo, è la rinomata cuoca di un ristorante tradizionale che porta il nome di suo marito, “Gino”. Lui gestisce il ristorante, mentre i due figli, Francesco, 40 anni, e Carlo, 27 anni, ricevono i clienti. Durante il festival, questo luogo è molto frequentato dagli artisti delle canzoni in gara. Ma i figli hanno una discordia eterna: Francesco adora il Festival e le canzoni che questo rappresenta, mentre a Carlo piacciono le canzoni di protesta di Luigi Tenco, che è stato il primo a dare voce alla “rabbia” degli italiani.

Lucia, Isabel e Gabriel arrivano in città in piena agitazione del festival, e il ragazzo conosce nel ristorante i principali cantanti in gara, tra cui Luigi Tenco. Gabriel simpatizza molto per Tenco, perché gli ricorda suo padre, che come sui si chiamava Luigi. Il cantante lo invita alla sua presentazione.

La platea in teatro è piena. Luigi Tenco e Dalida si presentano con “Ciao amore, ciao”. Per la sorpresa di Gabriel, lui viene fischiato e riceve pochi applausi. Lui esce dal palco molto perturbato. Alla fine della giornata di presentazioni, dove dieci canzoni si classificano per la grande premiazione, la musica di Tenco non viene selezionata. Vi è un grande malessere tra i partecipanti, e Tenco lascia il teatro da solo.

Gabriel torna a casa, dove Isabel lo aspetta. Turbato dall’insuccesso di Tenco, Gabriel discute con la madre e la accusa della morte del padre. Lui ha sofferto l’incidente in macchina dopo essere uscito di casa, irritato a causa di un litigio con Isabel. Questa rivelazione provoca una discussione grossolana tra Isabel e Lúcia, che fa Gabriel scappare da casa.

Gabriel va all’Hotel Savoy dietro a Tenco e lo vede uscire verso la spiaggia. Va verso di lui e le angustie di entrambi si trasformano in una chiacchierata d’affetto, dove Gabriel racconta della morte del padre e Tenco gli parla delle difficoltà del mondo adulto, dell’impotenza delle parole e dei sogni di fronte alle bugie e concessioni.

Ma alla fine dell’incontro, Tenco propone un “duetto” a Gabriel, dicendo che se lui ripetesse le frasi in italiano, forse entrambi si sarebbero alleviati dei loro dolori e avrebbero creduto nuovamente nella forza delle parole, nella vita e nell’amore che loro persistono nel mantenere e capire. I due cantano insieme.

Tenco, quindi, chiede al bambino di tornare dalla madre Isabel. Gabriel finge di andar via, ma continua a seguire Tenco. Scopre che lui va ad incontrare un uomo e li osserva mentre entrano in una macchina, posteggiata sul lungomare.

Al suo rientro a casa, Gabriel trova la madre e la nonna preoccupate. Ma lui non dice niente. Va in camera sua a dormire. Quando si sveglia al mattino, riceve la notizia della morte di Luigi Tenco.

Ancora perplesso, Gabriel va di nuovo al Savoy. Riesce ad infiltrarsi tra il movimento di artisti, giornalisti e poliziotti, e sale nella stanza dove vede il corpo di Tenco mentre viene ritirato. Tra alcuni curiosi, Gabriel riconosce l’uomo che Tenco ha incontrato in spiaggia.

Sommerso dal contorto mondo di vite adulte, dai loro problemi ed afflizioni, Gabriel cerca di investigare la morte di Tenco, perché non crede nella versione del suicidio e cerca di trovare un plausibile colpevole di fronte all’insopportabile fragilità della vita e alla brutalità degli avvenimenti. Allo stesso modo che colpevolizza sua madre per la morte del padre, ora deve anche trovare un colpevole logico e concreto per la morte di Tenco. Ma, a partire da questa ricerca, lui non scoprirà la verità sulla morte del cantante, fino ad oggi un gran mistero, ma finirà per trovare la verità sulla morte del padre e finalmente il perdono a sua madre.

DUETTO ha gli elementi strutturali di un thriller, in mezzo allo scenario importante e bello della cultura italiana degli anni 60, ma è fondamentalmente un film che ritratta il commovente percorso di un ragazzo verso la sua maturità e alla vita adulta.

 

Noite, em 1966. Uma casa de classe média no bairro do Pacaembu, em São Paulo. Cora, 15 anos e de olhos verdes muito claros, já de pijamas assiste, com a mãe Isabel, na TV, o último dia do Festival de Música Popular Brasileira da Record. Mas a mãe parece tensa. Aguarda Luis, seu marido.

Isabel ouve o carro de Luís, que chega. Vai até a porta. Logo que ela abre a porta, os dois começam a discutir. Sem que Cora possa dizer nada, Isabel a manda para o quarto. Ela ainda tenta argumentar, que quer ver o Festival até o final, mas a mãe grita dizendo para ela subir para o quarto. Cora, a contragosto, dá um beijo apenas no pai e sobe, irritada com a mãe.

No quarto, Cora está nervosa com os pais que brigam. Isabel acusa Luís de estar tendo um caso. Perplexa com o que ouve, Cora sai do quarto e vai para o topo da escada, nervosa. Vê Isabel que dá um tapa na cara de Luis. Sem se deter mais do que poucos segundos, ele sai da casa, batendo a porta.

O despertador toca e o dia amanhece pela janela do quarto de Cora. Ela acorda aos poucos, de um sono muito tenso. Começa a vestir seu uniforme de escola.

Já de uniforme, Cora desce as escadas. Vê alguns vizinhos que a cumprimentam, com pesar. Sem entender, ela segue até a cozinha, onde encontra a mãe sentada na mesa de café, de costas para ela. Estranha que o café não esteja posto, como sempre. Estranha os dois policiais que conversam com sua mãe. Cora não quer ouvir, mas ambos falam de um acidente de carro.

Os policiais olham para Cora e só agora Isabel a vê. Ela se levanta e abraça a filha, tentando segurar seu choro. Nesse momento, a avó Lúcia, mãe de Luís, chega na casa e vai direto para a cozinha. Os policiais saem. Lúcia e Isabel se encaram, Cora no meio. Ela gostaria de não ouvi-las, mas sabe que irá precisar compreender o que as duas estão falando, porque tudo já aconteceu. Lúcia está descontrolada pela morte de seu único filho. Afirma, aos berros, que Isabel foi a única culpada pela morte de Luís. Após a discussão dos dois, ele havia saído da casa com o carro em alta velocidade. Perdeu a direção e bateu com violência, contra um muro. Morte instantânea.

No dia do enterro do seu pai, Cora fica ao lado da avó, que segura sua mão. A mãe Isabel está muito abalada. Quando o enterro termina, os parentes e amigos cumprimentam Isabel, Lúcia e Cora. Lúcia comunica a Isabel que irá vender a cantina e que voltará para a Itália, levando Cora com ela. Isabel ainda tenta resistir a essa idéia, mas está frágil demais.

O avião decola. Nele, Cora está acomodada ao lado de sua avó Lúcia. Ela pede para a neta não comentar nada sobre a morte do pai para a família na Itália. Cora não entende. Ela insiste, explicando que é muito importante que ela diga sempre que está tudo bem com a vida deles no Brasil, que todos estão felizes e que o restaurante é um sucesso. Cora continua sem entender, mas acaba aceitando.
Enquanto isso, em San Remo, Sofia, irmã dois anos mais moça de Lúcia, observa pensativa o mar, enquanto fuma um cigarro. Ela parece nervosa.

Sofia entra em seu restaurante na avenida beira-mar que se chama “Anema e Core”. É um belo lugar, administrado pela família. Há várias fotos de artistas comendo e bebendo em suas dependências. Sofia pergunta as horas e no que Gino responde, ela comenta, atropelando-o, que só faltam três horas para Lúcia chegar. Gino se aproxima da mulher, carinhoso. Pergunta se, no fundo, ela não está feliz de reencontrar a irmã, são quase quarenta anos sem se verem. Pois tudo que aconteceu no passado e que as afastou não tem mais sentido. Chega Victor, afilhado do casal e adotado por eles desde os 10 anos, quando seus pais morreram num acidente de carro. Ele é francês de Nice. Irá levar Sofia na estação de trem.

Já na estação, Victor e Sofia esperam. De repente, Lúcia chega com Cora. Apesar de terem ficado muitos anos sem se verem, é evidente que as duas irmãs se conhecem. As duas irmãs se olham longamente. Victor fica feliz em conhecer Lúcia e principalmente Cora, que logo se identifica com a história de Victor. O cumprimento entre as duas irmãs é emocionalmente represado. Dão-se beijos formais. Sofia quebra levemente o gelo, sendo muito carinhosa com Cora. Victor, animado, comenta sobre a chegada de Luigi Tenco e de outros artistas. Conta que quer ser fotógrafo. Cora fica muito animada.

Victor dirige o carro de Gino, levando Sofia, Cora e Lúcia. Lúcia avisa que não planeja ficar por muito tempo, e que seria melhor que logo, no dia seguinte, fossem ao cartório, por causa da venda das terras dos pais das duas.

O carro entra na antiga propriedade da família, logo ao lado da entrada da cidade. Lúcia se emociona ao ver a antiga casa de seus pais. Enquanto isso, Victor mostra o quarto, onde Cora irá dormir com a avó. Ela começa a acomodar suas roupas no armário e coloca seu álbum de recortes no criado-mudo.

Uma grande mesa está posta no restaurante “Anema e Core”. Gino faz as últimas arrumações, meio tenso. Victor entra, trazendo Lúcia, Sofia e Cora. Gino as recebe. Victor se sente cada vez mais atraído atraído por Cora.

Todos já sentados. Lúcia faz um comentário sobre seu restaurante em São Paulo, que é um pouco maior do que o “Anema e Core”. A neta, nervosa, abaixa os olhos, sem jeito com a mentira. Há muito constrangimento neste reencontro mas Gino levanta o copo e faz um brinde a Cora.

Os familiares comem quase em silêncio. A atenção de todos no restaurante é atraída pela chegada de alguns cantores e artistas. Gino se levanta e se adianta em recebê-los. Cora fica olhando para Tenco.

Uma enorme Lua cheia sobre a casa. Lúcia a observa, junto com Cora. Ela pergunta se a avó se lembra da infância, das coisas que viveu em San Remo. Lúcia conta de sua vida com seus pais e com Sofia.

Da janela do quarto, Sofia vê Lúcia e Cora entrarem. Gino já está deitado. Sofia fala que a presença da irmã estava lhe fazendo mal, é como se ela voltasse a se lembrar de um crime que cometeu. E ele começasse a importunar sua consciência. Gino responde que para Lúcia o que eles fizeram pode ser visto como um crime, uma grande traição. Mas que não se arrependia de nada porque sempre amou Sofia.

Na manhã seguinte, Sofia e Lúcia, vão ao cartório para assinar os documentos para a venda do terreno da família. Mas lá o tabelião alega que houve um pequeno problema com a escritura. O tamanho do terreno está errado. As duas terão que retornar depois do final de semana, pois na sexta, com o início do festival seria difícil ter tudo pronto. As irmãs, muito contrariadas, saem em silêncio.

No carro, Sofia pergunta se Lúcia não quer ver o terreno, já que ainda pertence a elas. Um modo de se despedir. Lúcia responde que não. Sofia fala, então, que pelo menos Cora poderia ir ao festival com Victor.

Final de tarde, Victor e Cora conseguem comprar os ingressos para a primeira noite do festival, que deverá ter a apresentação de Tenco. Cora está muito excitada com a movimentação na cidade e vai comprar um vestido novo para a grande noite. Victor a acompanha.

Na loja mais moderna e jovem de San Remo, Cora se delicia escolhendo um vestido. Experimenta vários e os mostra para Victor, que cada vez mais está interessado por ela. Por acidente, ele a vê se despir no trocador. Cora não percebe.

No caminho de volta para casa, Victor e Cora. Caminham juntos, as mãos roçando uma na outra. Ele conta um pouco sobre as mortes de seus pais no acidente. O clima é interrompido, quando ela vê Tenco na rua, com um homem misterioso, careca e de óculos escuros. Ela chama a atenção de Victor, comentando que os dois parecem estar discutindo feio. Pergunta se Victor sabe quem é, mas ele responde que não.

Na casa, Lúcia está se arrumando e Gino aparece. Ela o vê através do espelho do quarto. Por um momento, numa mesma moldura, seus rostos ficam juntos. Ele tenta convencê-la de que já é hora de esquecerem tudo. O olhar de Lúcia não acompanha suas palavras, que responde que não se lembra mais de nada, que não tem para conversar com ele. Mas quando ele sai, irritado, Lúcia se olha no espelho: há muito sim a falar com Gino.

Cora e Victor chegam no Festival de Música. Cora está muito bonita em seu novo vestido. Grande movimentação de público e repórteres.

No restaurante, muitos clientes e a TV ligada com matérias sobre o Festival. Sofia está na cozinha, com as assistentes, Gino no caixa e os garçons fazem o atendimento dos clientes. De repente, a porta do restaurante se abre e Isabel entra, carregando uma pequena mala. Ela vai até Gino, procurando por Sofia. Apresenta-se como Isabel, mãe de Cora. Gino chama Sofia. As duas se cumprimentam e ela pergunta se Luís também veio junto com ela. Isabel fala mal italiano e, por um momento, acha que não compreendeu a pergunta. Mas Sofia repete devagar. Isabel, então, fala em seu italiano sofrível, que o marido morreu. Pergunta se Lúcia não disse nada. Acaba contando também sobre a venda do restaurante. No meio da movimentação do restaurante, Gino e Sofia estão surpresos com tudo, mal conseguem reagir. Isabel diz que veio buscar Cora porque Lúcia não pode tirar-lhe a filha.

Na primeira noite do Festival, Luigi Tenco canta “ Ciao amore, ciao” . Cora gosta de vê-lo e acompanha a música, com os olhos brilhando. Victor chega a ficar com ciúmes de Tenco. Alguns da platéia vaiam, outros aplaudem muito. O público está dividido entre amar ou odiar a música de Tenco. O júri parece estranho, como uma predisposição clara contra a música de Tenco. Cora e Victor estão surpresos com as reações. Ele tira algumas fotos.

Passagem de tempo. As quinze músicas foram apresentadas e o público aguarda, ansioso, o anúncio das sete músicas classificadas nesta primeira noite. Essas primeiras sete selecionadas se juntarão com as outras sete do segundo dia do festival. No terceiro e último dia, as sete músicas classificadas em cada noite serão reapresentadas e a grande vitoriosa será escolhida.

Todos os autores e cantores estão presentes, de pé, no palco. Na primeira fileira do auditório, o júri se movimenta. Victor e Cora esperam, ansiosos. Têm certeza que a música de Tenco será classificada para a grande final do Festival. Uma folha de papel com o resultado é levada por uma jurada mulher até o apresentador. O suspense é grande. O apresentador começa a anunciar as músicas classificadas. Uma após outra, até que no final, fica claro que a música “Ciao amore ciao” não foi selecionada. Uma grande comoção entre os participantes e parte do público. Victor e Cora, assim como outros, chegam a se levantar, protestando. Ninguém esperava por isso. Muito menos Dalida e Luigi Tenco. Para os amigos que estão em sua volta, ele diz que “agora está tudo acabado”. E, num rompante, sai correndo, abandonando o palco. É uma grande decepção para a parte do público que apoiava sua música. Cora fica perturbada com a situação toda.

Na casa, Sofia chega com Isabel, e encontram Lúcia. É um grande choque para ela. Isabel avisa que veio buscar Cora. Lúcia acha que as duas se juntaram contra ela. Sofia fala da loucura da irmã ter escondido a morte do filho, a venda do restaurante em São Paulo. Lúcia responde que além de sofrer sempre mais do que Sofia, ainda teria que dar à irmã o prazer de se sentir sempre a mais bem sucedida? Sempre foi a mais bonita, a mais simpática, a mais querida. Lúcia revela, então, se Sofia não pode se sentir culpada por ter roubado Gino dela.

Neste momento, Cora entra na casa e encontra Isabel, junto com Sofia e Lúcia. Presencia ainda a briga entre a avó e Sofia. Ela então se aproxima de Isabel, que a abraça, com saudades, interrompendo a discussão entre Lúcia e Sofia. Isabel diz que veio buscar Cora, que seu lugar é com ela. Lúcia repete que Isabel foi culpada pela morte de Luís. Se os dois não tivessem brigado, Luís estaria vivo. Isabel e Lúcia também começam agora a discutir. Cora não quer ouvir as duas e, muito perturbada, sai correndo da casa, sem que elas consigam detê-la.

Cora sai correndo pela estrada. Corre quanto pode. Isabel e Sofia saem também. Lúcia fica sozinha na casa .

Cora agora chega na praia. Está exausta de tanto correr. Desaba sobre a areia e começa a chorar. De repente, ela se levanta abrupta e, com seu vestido novo e de sapatos, corre para o mar, sem saber onde parar, se deve parar. As ondas batem em seu corpo, mas ela avança cada vez mais.

Subitamente, um braço lhe puxa, detendo-a. Cora se assusta e tenta se esquivar, mas percebe que é Luigi Tenco. Se não fosse tão inusitado, ela gritaria para ele deixá-la em paz. Mas Cora fica sem ação e ele a leva de volta para a areia.

Cora e Tenco se sentam na areia. Ela parece exausta de seu esforço de correr e entrar no mar. Tenco a observa por um longo instante. Depois de um silêncio entre os dois, Cora, sem saber o que dizer, lembra que gostou muito da música “Ciao amore ciao” e que ela deveria ter sido selecionada. Tenco sorri, comentando que Cora então, foi a única a realmente gostar. E, meio à queima-roupa, pergunta o que ela pretendia, entrando no mar daquela forma. Cora não responde. As lágrimas caem de seus olhos. Tenco percebe sua dor. Pergunta a idade de Cora que responde que tem 15 anos. Tenco sabe que pode haver muita dor, mesmo em alguém tão jovem.

Então, Tenco propõe um “dueto” a Cora, dizendo que se ela repetisse as frases em italiano, talvez ambos se aliviassem de suas dores e acreditassem novamente na força das palavras, na vida e no amor que elas teimam em manter e entender. Cora pergunta se ele vai cantar uma música dele, Tenco responde que não, que seria estranho naquele momento. E fala que os dois irão cantar “Quello che Conta”, de Enio Morricone e Luciano Salce. E começa a cantar: “Ormai siamo soli/ nel mezzo del mondo/qualcosa divide/ la gente da noi/ma quello che conta/è non essere soli/ quello che conta è che tu sei con me…”

Cora vai repetindo as frases com Tenco e os dois terminam de cantar a primeira parte da canção. Cora conta da morte do pai, da culpa de sua mãe, as brigas entre ela e a avó. Tenco lhe fala sobre as dificuldades do mundo adulto.

Ainda um instante entre os dois. É como se Cora não quisesse deixar Tenco, estivesse se sentindo muito bem ao lado dele. Cora, então, num ímpeto acaricia o rosto de Tenco e o beija nos lábios, levemente. Antes que Tenco posso fazer qualquer reação, ela sai correndo, de volta para sua casa. Ao longe, sem se aproximar, Victor observava tudo e tira uma foto. Ele fica com ciúmes.

Quando Cora volta para casa, encontra a mãe, a avó e Sofia preocupadas. Aflitas, perguntam sobre a roupa e os sapatos molhados. Mas Cora não lhes dá nenhuma explicação. Fala apenas que precisa dormir porque está muito cansada.

No quarto, Lucia ainda tenta conversar com Cora. Quer saber para onde ela foi, como ela está. Cora não quer falar e nada conta sobre seu encontro com Luigi Tenco. Mas sabe que vai dormir, pensando nele.

De manhã, Cora, na sua cama, vai acordando devagar, ainda com a lembrança de seu encontro com Tenco. Repentinamente, Victor entra no quarto e sem conseguir encontrar as palavras certas, dá a notícia da morte de Tenco. Cora não entende, mas Victor confirma tudo, explicando que foi noticiado como suicídio. Cora consegue acreditar que Tenco possa ter se suicidado.

Cora vai até o Hotel Savoy, onde todos os cantores do Festival estão hospedados. Ela observa a movimentação de repórteres, fotógrafos e curiosos em frente ao hotel. Alguns artistas, críticos e organizadores do festival dão entrevistas para a televisão, rádio e jornais. Uns dizem que Tenco era bem humorado, outros que ele era taciturno. Uns dizem que ele era um conquistador de mulheres, outros que era sério e que era apaixonado por uma namorada de infância. Uns dizem que era um cantor romântico, outro um “cantautore” (cantor e autor) de músicas de protesto. Ou seja, sempre avaliações contraditórias. Cora consegue furar o bloqueio e sobe até o quarto, onde vê o corpo de Tenco sendo retirado. Um tiro na têmpora esquerda. O choque é muito grande. Ela não consegue ficar olhando. Os fotógrafos tiram muitas fotos. Cora começa a passar mal e é salva por Victor. Ele tenta acalmá-la.

No restaurante, alguns clientes falam que acham que Tenco foi assassinado pela máfia fonográfica. Victor e Cora ouvem todos os comentários. Ele não quer vê-la deprimida e comenta, então, que viu o mesmo homem careca ( que haviam visto na Cidade Velha com Tenco ), discutindo com ele na noite do Festival. Eles resolvem investigar. Victor gosta de ver Cora animada outra vez.

Nas ruas do centro de San Remo, Cora e Victor seguem o homem misterioso. Ele, como se soubesse que está sendo seguido, consegue despistá-los. Pelo menos, é o que pensam os dois jovens.

Cora e Victor resolvem ir até uma delegacia. Eles contam para o delegado sobre o homem estranho. Um homem que havia brigado com ele no dia anterior. O delegado encara os dois com enfado. Fala que, a cada hora, aparece alguém afirmando que sabe alguma coisa sobre a morte de Tenco ou alguma moça alegando que ele se matou por causa dela… Já apareceu até alguém “confessando” que o matou, querendo virar celebridade por causa disso. Cora ainda insiste, mas o delegado os manda embora. Cora, acompanhada de Victor, sai da delegacia, completamente frustrada.

Na rua, Victor acaba revelando que viu o beijo que Cora deu em Tenco. Mostra a foto. Ele explica que tinha ficado com ciúmes, mas que agora não precisa mais ter. E, que, na verdade, só quis ajudá-la, para ficar perto dela. Pouco se importava com Tenco. Cora fica magoada com as palavras de Victor e não quer mais que ele a acompanhe. Irá continuar as investigações sozinha e não quer mais que ele se aproxime dela.

Na madrugada, no quarto, Cora espera que Lucia e os outros durmam. Veste-se e sai do quarto, às escondidas.

Cora, apressada, anda pelas ruas em direção ao Hotel. Chega ao Hotel mas é parada pelo porteiro na entrada. Ele insinua que se Cora lhe der algum dinheiro, poderá deixá-la entrar. Fez isso com alguns jornalistas. Ela fica de arrumar o dinheiro e voltar no dia seguinte. Isabel observa, de longe.

No dia seguinte, no café da manhã, Cora pede dinheiro para Isabel, alegando que é para um novo sapato, porque havia estragado seu melhor sapato na noite do Festival, molhando-o. Isabel, desconfiada, lhe dá o dinheiro.

Perto da hora do almoço, Lúcia e Sofia estão indo finalmente ao cartório concretizar a venda. A cena chega a ser engraçada, com o tabelião italiano dispondo de vários carimbos e assinaturas, revelando uma burocracia dramaticamente cômica. Ele avisa que Lúcia poderá receber o dinheiro no dia seguinte.

Na volta, Sofia dirige o carro. Lúcia está a seu lado. Sofia quer ter uma conversa definitiva com Lúcia. Não é possível que, após tantos anos, ela não consiga compreender o que aconteceu no passado. Ela não se casou? Ela não construiu uma vida no Brasil? As duas começam a discutir novamente. Lúcia faz acusações duras a Sofia. No calor do momento, um caminhão aparece na direção oposta ao carro das duas, no meio de uma curva perigosa. Sofia perde o controle do carro e ele sai da estrada. Desce, abrupto, uma ribanceira em direção a um precipício. Num gesto rápido e por instinto, cada irmã estende o braço, tentando proteger o corpo da outra.

O carro é parado por uma cerca dupla de arame farpado, que o impede de cair no precipício. As duas irmãs se dão conta do que aconteceu. Estão assustadas. As duas choram. Olham-se com aflição e saem do carro, com dificuldade. Lúcia olha Sofia profundamente. Toca seu rosto, com carinho. Mas confessa que não consegue perdoá-la, pois amava muito Gino. Não consegue esquecer. E revela que Luis era filho de Gino. Depois do abalo, Sofia diz que Lúcia precisa contar a verdade para Gino.

Na madrugada, Lucia, em sua cama, dorme. Cora, já vestida, se levanta. Pega o dinheiro e uma lanterna. Com muito cuidado para não acordar a avó, ela deixa o quarto. Depois, Cora atravessa a sala e vê Isabel, que no sofá, parece dormir. Quando ela abre a porta e sai, a mãe também, apressada, se levanta.

Cora segue pelas ruas em direção ao hotel. Isabel a segue. Ela chega no hotel Savoy. Encontra o porteiro e lhe dá dinheiro. Ele conta as notas, guarda-as no bolso da calça e aceita levar Cora para dentro do hotel. Isabel observa os dois.

No corredor, o porteiro e Cora chegam diante da porta do quarto 219, onde Luigi Tenco morreu. O lugar está isolado pela polícia, mas o porteiro abre a porta, pedindo-lhe para não fazer barulho. Avisa que voltará em quinze minutos. Cora entra no quarto.

No quarto de Tenco, Cora liga a lanterna. Com ela focaliza os vários lugares: o armário, a cômoda, a janela, a escrivaninha. Alguns objetos de Tenco ainda estão lá. Cora os toca, é como se procurasse a presença de Tenco neles. Depois ela focaliza a cama, o chão, onde vê a mancha de sangue ainda lá. Fica perturbada. Ela se senta na cama, sem saber o quer procurar, o que fazer. Começa a chorar. De repente, ela ouve a porta se abrir. Quando ilumina com a lanterna, vê que é Isabel. Ela fica surpresa. A mãe se senta ao seu lado, na cama. Pergunta por que Cora está lá. Cora responde que na noite em que a mãe chegou em San Remo, ela tinha encontrado com Tenco na praia. E que ele havia salvado-a do mar e conversado com ela. Isabel fica aflita com o que Cora está contando, mas se controla, quer deixar sua filha falar. Cora continua contando que Tenco não podia ter se suicidado, porque ele a havia ajudado naquela noite. Os dois cantaram juntos e ele queria viver. E, com pudor, conta que ela o tinha beijado. Cora se abraça na mãe. Isabel, então, fala da noite do acidente. Cora não quer ouvir. Mas ela confirma que os dois brigaram sim. Cora pergunta se a mãe iria se separar do pai. Isabel diz que não consegue mais responder a essa pergunta. Não consegue responder nem para si mesma. Tenta explicar que são coisas que ocorrem nas vidas dos adultos e que o acidente foi algo que aconteceu, mas que ninguém pode saber o que se passou com Luís e por que ele perdeu o controle do carro. E que ninguém vai conseguir descobrir o que aconteceu exatamente na noite em que Tenco morreu. Mas que Cora levará pela vida a presença daquele encontro na praia, assim como levará a presença do pai.

Quando saem do Hotel, Victor as está esperando. Isabel diz que pediu para Victor encontrá-las. Num primeiro momento, Cora não gosta e fica do lado da mãe, distante de Victor.

Na rua deserta, perto do hotel, Cora, Isabel e Victor caminham. Um vento sopra forte e Cora sente frio. Victor, então, tira seu casaco e lhe oferece. Ela ainda hesita mas Victor insiste. Cora coloca o casaco sobre seus ombros e os dois seguem pela rua. Isabel deixa que eles se adiantem um pouco dela e os observa, por um instante.

Uma folha de jornal usado passa por eles, rodando pelo asfalto. No que ela pára, por um instante, aberta, vemos escrito em letras garrafais: “Suicídio ou homicídio, o mistério da morte de Luigi Tenco continua”. E depois o vento volta a levar a folha novamente pela rua, até ela desaparecer completamente na escuridão da noite.

FIM

FICHA TÉCNICA

PRODUÇÃO Rita Buzzar
ROTEIRO Rita Buzzar e João Segall